
"O Suda propõe a seguinte definição que Hesíquio repetirá: os
aphrodisia são "as obras", "os atos de Afrodite" -
erga Aphrodites. (...). Entretanto, é um fato que os gregos não deram testemunho no seu pensamento histórico, nem na sua reflexão prática, de um cuidado insistente em delimitar o que eles entendiam exatamente, pelos
aphrodisia - quer se tratasse de fixar a natureza da coisa designada, de delimitar a extensão de seu campo, ou de estabelecer o catálogo de seus elementos. Em todo caso nada que se assemelhasse às longas listas de atos possíveis que serão encontrados nos penitenciais, nos manuais de confissão ou nos livros de psicopatologia; nenhum quadro que sirva para definir o legítimo, o permitido ou o normal, e a descrever a vasta família dos gestos proibidos. Nada, também, que se assemelhe ao cuidado - tão característico da questão da carne ou da sexualidade - em revelar sob o inofensivo ou o inocente a presença insidiosa de uma potência de limites incertos e múltiplas máscaras. Nem classificação nem decifração. Serão fixadas com esmero qual a melhor idade para se casar e ter filhos e em que estações as relações sexuais devem ser praticadas; nunca se dirá, como um diretor cristão, que gesto fazer ou evitar, que carícias preliminares são permitidas, que posição tomar, ou em quais condições pode-se interromper o ato. Para aqueles que não eram suficientemente armados, Sócrates recomendava fugir da vista de um belo rapaz, mesmo se para isso fosse necessário exilar-se por um ano; e o
Fedro evocava a longa luta do amante contra seu próprio desejo: mas, em nenhum lugarn são expressas, como serão na espiritualidade cristã, as precauções necessárias a fim de impedir que o desejo se introduza sub-repticiamente na alma, ou a fim de desalojar seus vestígios secretos. E o que é talvez mais estranho: os médicos que propõem, um tanto detalhadamente, os elementos do regime dos
aphrodisia, são praticamente mudos quanto às formas que os próprios atos possam tomar; eles dizem muito pouco - fora algumas referências quanto à posição "natural" - sobre o que é conforme ou contrário à vontade da natureza." (Pg. 38).
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